A Moça do Bar - Parte II  

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Ela acordou e estava só. Havia trabalhado duro nos últimos dias e acabou pegando no sono na noite anterior. Há muito não passava uma noite assim tão agradável, estava farta de encontros vazios e aquele definitivamente não foi um desses. Não precisou forçar simpatia como costumava ser obrigada a fazer. Levantou-se e procurou por ele pela casa, mas não estava lá. Já era tarde e deveria se aprontar para o trabalho.
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Eu não conseguiu dormir, ela invadia meus pensamentos. Não consegui ficar mais na cama, o relógio marcava 4h10min. Fui para o chuveiro, isso me ajudava a pensar. Ela permeava minha mente. Fiz café e comecei a planejar o dia, não trabalhava aos sábados, mas precisa colher alguns dados de um experimento ativo. Fui interrompido pelo telefone que tocava, quem ligaria tão cedo?


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Seu dia transcorria normalmente, todos diziam que havia algo diferente nela. Ela não havia notado nada de especial. Do trabalho, foi direto para o bar com o pessoal, pegaram a mesa de sempre. Alguém contava ma piada sobre dois amigos que foram caçar, todos riam. Seus pensamentos estavam distantes e seus olhos estavam fixos no balcão.
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Era o meu chefe ao telefone, um curto circuito no sistema de iluminação havia começado um incêndio no laboratório, precisavam de mim. Saí imediatamente. 
O laboratório estava um caos, como os meus pensamentos. A limpeza exigiu todo o sábado de todos nós. No caminho para casa, resolvi comer alguma besteira e passar no bar. Sentei no balcão e pedi o de sempre. Ela não estava lá. 
- Ela esteve aqui mais cedo, saíram há pouco tempo - Disse o Barman.
- Ah, que pena. Obrigado - eu respondi.
Pedi uma garrafa de vinho e minha conta. Junto com a conta, veio o cartão de um café que ficava perto do parque. Não entendi o porque, mas antes de questionar o barman piscou para mim e disse que eu parecia precisar de um café.
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Era um daquelas manhãs de domingo nubladas que costumam inspirar os poetas. Todos pareciam ter combinado secretamente não sair de casa e só ela não havia sido avisada. Não havia movimento no café, ela gostava de dias assim. 
Enquanto divagava sobre a vida um menino de não mais de sete anos passava pela porta. Era um engraxate e levava em uma das mãos o seu material de trabalho. Café não era bebida para crianças, ela detestava pais que permitiam que seus filhos bebessem café.
- Bom dia, moça - disse ele com um sorriso.
- Bom dia, rapazinho. O que deseja? - ela perguntou com simpatia.
- Tenho este bilhete para a senhorita - disse estendendo um papel que carregava com cuidado.
No bilhete havia apenas o endereço de uma das praças do parque e um horário, sem assinatura.
- Quem enviou o bilhete? - questionei.
- Um moço alto e sorridente. Mas agora preciso voltar ao trabalho moça, bom dia - e saiu correndo pela porta rindo como se soubesse de algo.
Pela vaga descrição poderia ser qualquer pessoa, ela estava entediada então correria o risco.
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Enquanto esperava sentado sobre a grama, tomava algumas notas e observava a vida acontecendo ao meu lado. Era outono, minha estação favorita. Pessoas iam e vinham o tempo todo, correndo, andando de bicicleta, patins e skate. Outros viajavam em silêncio por vários muitos enquanto liam sentados, espalhados por todos os lugares. Eu tinha comigo também uma garrafa de Cabernet
Sauvignon e duas taças.
Não muito tempo depois, lá estava ela. Vestido preto com bolinhas brancas, cabelos presos num rabo de cavalo. 
- Hey você! - Eu disse.
- Ei, então era você? Como me encontrou? - Ela perguntou sorrindo. 
- Eu sou um pesquisador, é isso que fazemos - Eu respondi.
- haha, esperto - Ela sorria enquanto perguntava - Mas e se eu não aparecesse?
- Era um risco, mas você está aqui - Eu disse.
Bebemos vinho e conversamos. Havia tanto a ser dito. Filmes, músicas, livros. Ela era mágica, assumia suas limitações, era eclética e aberta a novas experiências. Tudo ia muito bem. 
Quando terminamos o vinho, nos pusemos a caminhar. E assim passou o tempo e novamente estávamos na porta de sua casa, abraçados em silêncio. Tudo o que eu queria era que aquele momento se repetisse várias e várias vezes. Em dado momento, nossos olhos se encontraram ali, sob o luar, e em meio ao mar de loucuras que se passava em nossas cabeças tomei sua cabeça em minhas mãos e a continuamos nos olhando. Observava o rubro dos seus lábios, as formas do seu rosto, o profundo dos seus olhos. Ela esquivou quando tentei beijá-la. Pediu desculpas, mas não havia o que desculpar. Disse que estava tarde e que precisava entrar, me desejou uma boa noite e se afastou. Assim a vi entrar, aquele parecia ser o fim.



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This entry was posted on quarta-feira, 8 de abril de 2015 at 14:44 and is filed under , , , , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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